Páginas

terça-feira, 23 de março de 2010

Petrobras mais assusta do que anima


  • 23 Mar 2010
  • Valor Economico

Obalanço da Petrobras no quarto trimestre do ano passado, divulgado na sexta-feira, veio um pouco acima das expectativas dos analistas. No entanto, não foi isso que chamou a atenção dos investidores. O mais importante é a relação entre os investimentos e o endividamento da estatal. A companhia aumentou os investimentos para este ano dos R$ 79,5 bilhões inicialmente previstos para R$ 88,5 bilhões, também acima dos R$ 70,7 bilhões do ano passado. Ao mesmo tempo, a alavancagem líquida— relação entre o endividamento líquido e o patrimônio líquido —, que foi de 31% em 2009, não poderá ultrapassar os 35% este ano. Do contrário, a estatal corre o risco de perder a classificação de investimento não especulativo que possui hoje. Para conseguir cumprir a sua meta de investimento sem piorar o nível de alavancagem é mais importante do que nunca que a megacapitalização com os 5 bilhões de barris de petróleo se concretize.

Como essa operação depende da aprovação do Senado e, depois, da definição de todos os aspectos técnicos, como o preço dos 5 bilhões de barris e a participação dos acionistas minoritários, existem grandes chances de ela não ocorrer antes da eleição para presidente da República. Consequentemente, ficará para ser resolvida apenas pelo próximo governo. Se a definição do negócio já era importante para as ações da Petrobras voltarem a se valorizar, agora mais ainda, uma vez que o cumprimento dos investimentos previstos deve depender da entrada desses novos recursos.

“Com essas novas informações, o mercado tem mais para se preocupar com a Petrobras do que se animar”, diz o analista da Gradual Investimentos Flávio Conde. Pelas suas contas, se a companhia de fato investir os R$ 88,5 bilhões e tiver um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (lajida) na casa dos R$ 60 bilhões, a alavancagem líquida deve subir dos 31% em 2009 para 38%, passando os tais 35% de limite. “Se é realmente importante que a Petrobras respeite esse percentual de endividamento, é cada vez mais importante que se aprove uma emissão de ações”, afirma Conde.

Essa nova pitada de incerteza num cenário que já era nebuloso se refletiu na bolsa. As ações preferenciais (PN, sem voto) da Petrobras fecharam com tímida alta de 0,02%, enquanto as ordinárias (ON, com voto) ficaram estáveis aos R$ 40,55. Esses desempenhos podem não parecer ruins, mas se não fosse essa história do endividamento seria bem possível que os papéis se valorizassem, refletindo o resultado positivo que a companhia teve.

Os relatórios de outras corretoras também mostram a mesma preocupação com relação à estatal. A analista da Ativa CorretoraMônica Araújo, por exemplo, lembra que a alavancagem líquida de 35% e a dívida líquida/lajida de 2,5 vezes representa um nível de endividamento, considerando o lajida dos últimos 12 meses, de quase R$ 150 bilhões, praticamente o dobro do endividamento líquido no fim de 2009 e insuficiente para bancar o programa de investimentos dos próximos cinco anos. “Com isso, fica cada vez mais claro a necessidade de capitalização da empresa, de forma a manter em equilíbrio sua alavancagem financeira”, diz a analista em relatório.

Nenhum comentário:

Postar um comentário