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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Para ONS, não será preciso acionar termelétricas a óleo

Técnicos esperam que chuvas elevem os níveis dos reservatórios


  • 11 Nov 2010
  • Valor Economico
  • Chico Santos
  • Do Rio


A meta de chegar ao dia 30 com os reservatórios de água do sistema hidrelétrico da região Nordeste com 43% da capacidade não será atingida, mas o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e os grandes consumidores de energia elétrica estão relativamente aliviados com os sinais de chegada da estação chuvosa no Sudeste/Centro-Oeste e no próprio Nordeste do país. As metas de níveis de reservatórios são estabelecidas pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE).
A avaliação do ONS é que não será necessário acionar as termelétricas movidas a óleo, de custo operacional elevado. Consequentemente, espera-se que os encargos para os consumidores com o acionamento de termelétricas para poupar água das hidrelétricas até o fim deste mês fiquem no limite dos R$ 500 milhões já estimados.
“Na verdade, até há pouco tínhamos uma preocupação grande, na medida em que o início do período chuvoso se deslocou um pouco. Não começou ainda, mas há uma sinalização de que está chegando”, disse Fernando Umbria, assessor para Energia Elétrica da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace). Segundo Umbria, sem as chuvas “o caminho natural seria o acionamento das térmicas a óleo”, fazendo com que a meta dos R$ 500 milhões fosse, no mínimo, otimista, aumentando os prejuízos dos consumidores, especialmente dos eletrointensivos.
Em uma reunião realizada anteontem entre técnicos do ONS e do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Cptec-Inpe), chegou-se à conclusão de que o país está ainda vivendo um período de transição para a estação chuvosa. A expectativa dos técnicos é que as chuvas se intensifiquem a partir da segunda quinzena, com efeitos mais expressivos sobre os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste e do Nordeste.
Na fase atual, as chuvas ainda estão encharcando o solo, alimentando o lençol freático para que então, alimentadas por novas chuvas, as águas comecem a engrossar os rios, aumentando o volume que chega aos reservatórios.
Mesmo na fase atual já podem ser observados alguns efeitos positivos. No domingo o reservatório da barragem de Três Marias (MG), no rio São Francisco, recebia 1.070 metros cúbicos de água por segundo (m3/s), enquanto a vazão era de 447 m3/s. Na segunda-feira o afluxo caiu para 600 m3/s.
Em maio de 2008 o CMSE, presidido pelo ministro de Minas e Energia, criou o regime de metas para os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste e do Nordeste, os mais sensíveis do sistema, com o objetivo de planejar melhor o uso da água e de racionalizar o acionamento das térmicas ao longo do ano, criando uma espécie de seguro-reservatório.
A inspiração veio do terrível verão de 2007/2008, quando as chuvas demoraram a chegar, os reservatórios praticamente secaram e foi preciso usar várias termelétricas movidas a óleo diesel para suprir o mercado de energia, evitando um colapso. O custo por megawatt/hora da energia chegou perto de R$ 600 e a conta para o mercado foi a R$ 2,3 bilhões.
Com o regime de metas são estabelecidos níveis, em percentuais, a serem perseguidos para os reservatórios em uma determinada data (30 de novembro), sendo as usinas térmicas utilizadas ao longo do ano de modo a calibrar o uso das hidrelétricas de acordo com essas metas. Tem semelhança com o uso da política monetária para o cumprimento da meta de inflação.
Para este ano, as metas estipuladas foram de 39% de água nos reservatórios do Sudeste/CentroOeste e 43% nos do Nordeste. No dia 8, os reservatórios estavam em 41,8% no Sudeste/Centro-Oeste e em 39,16% no Nordeste. Como as chuvas ainda não estão com a intensidade desejada, o ONS já concluiu que só a meta para o Sudeste/Centro-Oeste será atingida.
Os técnicos minimizaram o descumprimento da meta nordestina por três razões: o resultado não ficará muito distante do objetivo, a carga de energia da região não é tão grande — algo em torno de 15% do total do Sistema Interligado Nacional (SIN) — e o Nordeste pode ter até 50% da sua carga suprida a partir de outras regiões.
Umbria, da Abrace, considera que na configuração atual o sistema é seguro, mas carece de aperfeiçoamentos. Para ele, é necessário que sejam definidas regras mais claras para o despacho das térmicas por razão de segurança energética, permitindo que os consumidores possam se planejar melhor e racionalizar seus custos com energia. Ele reclama também do fato de os custos incidirem apenas sobre os consumidores, embora as geradoras de energia hidrelétricas, por exemplo, sejam beneficiadas com a manutenção dos seus reservatórios cheios.

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