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quarta-feira, 10 de março de 2010

Celesc está na mira da Copel, mesmo em um ano eleitoral

Com caixa maior que toda sua dívida, empresa busca negócios

  • 10 Mar 2010
  • Valor Economico
  • Josette Goulart e Marli Lima
  • De Curitiba

“Eu quero comprar a Celesc”. A declaração do presidente da Copel, Rubens Ghilardi, ao Valor mesmo antes de ser questionado sobre o possível interesse na empresa catarinense é um prenúncio da disputa que uma eventual privatização da companhia catarinense ou da saída de minoritários do capital da empresa pode incitar. Desde que a crise se instalou na Celesc, com minoritários questionando a gestão da companhia e o governo estadual sob forte pressão, se fala na venda. E não é só a estatal paranaense que quer fincar os pés em Santa Catarina. A estatal mineira Cemig também está atenta ao movimento e hoje faz o que tem sido considerada uma verdadeira avaliação de ativos, sob a forma de uma cooperação técnica firmada no início do ano.

“Dependendo do preço”. O presidente da Copel completa a frase e pergunta: “Não é muito mais lógico ficar com a Celesc do que fazer uma usina no Mato Grosso?”. A empresa paranaense não tem qualquer pretensão de se tornar uma Cemig, pelo menos não sob a gestão de Rubens Ghilardi, que ocupa o cargo desde 2005 por indicação do governador Roberto Requião. Mas quer crescer e investir, já que mesmo com forte caixa e bons índices de liquidez não fez grandes negócios nos últimos anos, muito por falta de oportunidade mas também porque não pode ser minoritária em projetos sem a aprovação da assembleia legislativa estadual.

Mesmo com as eleições para governador de Estado se aproximando, e, portanto, com a iminente a troca de comando das três companhias, uma tacada mais definitiva ainda neste ano rumo ao capital da Celesc não é descartada pela Copel. Ghilardi diz que não veria problema em até mesmo ser minoritário da companhia, e poderia levar o projeto à aprovação assembleia legislativa estadual. Mas é prudente e diz que nem sabe se continuará no cargo pois em abril existe a expectativa de que o governador Roberto Requião deixe o cargo para concorrer nas próximas eleições. Só não será candidato a governador, pois já teve dois mandatos e por isso não pode se reeleger. Mas já chegou a manifestar o desejo de concorrer à presidência da República. “Se o próximo governador ainda quiser um técnico, pode ser que me mantenha no cargo”, diz Ghilardi, que hoje é funcionário aposentado de Itaipu e da própria Copel.

O apetite da companhia parananense para comprar ativos ou entrar em novos projetos não é de hoje. Ghilardi desde o ano passado fala da grande disponibilidade de caixa da companhia. A empresa tinha um caixa líquido em setembro doano passado de R$ 237 milhões. Isso significa que mesmo que a empresa tivesse decidido pagar pagar toda a sua dívida, inclusive a que vence no mais longo prazo, no final do ano passado, ela ainda teria esse caixa de duas centenas de milhões de reais. Eis o motivo da frustração da Copel por não ter conseguido realizar grandes investimentos nos últimos anos.

A maior decepção do próprio governo paranaense, em termos de novos investimentos, foi ter perdido em 2008 o leilão da hidrelétrica de Baixo Iguaçu, que fica no Paraná. Até hoje Requião culpa a Eletrosul, que se associou à Copel para a disputa, mas segundo ele exigiu retornos mínimos de investimento que tiraram a empresa paranaense da disputa. A concessão da usina ficou com a Neoenergia, que chegou a negociar uma sociedade com a Copel. Mas hoje nem a Neoenergia tem direito a construir a usina, pois uma decisão da Justiça federal anulou o leilão, e a empresa recorre judicialmente da decisão.

Apesar de ter uma situação de caixa confortável que possui hoje, grandes projetos como o da usina hidrelétrica de Belo Monte não estão no radar da empresa. “A Copel é paranaense e busco sinergias”, observa Ghilardi. “A intenção é o Paraná, eventualmente Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e São Paulo, que são vizinhos. Agora, para ir ao Pará é preciso algo muito atrativo.”

Os investidores têm vislumbrado um potencial de valorização da Copel. Apesar de ter as ações pouco negociadas em bolsa, a empresa, desde o início de 2009, viu seu papel valorizar mais de 83%. Os analistas sempre dizem que um dos motivos para o papel ter se valorizado tanto foi o fato de o governador Roberto Requião não poder se reeleger, já que ele é visto como um governador que interfere na operação da companhia.


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