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segunda-feira, 15 de março de 2010

Cemig negocia transmissora espanhola

Preço sugerido pelos três acionistas vendedores da Plena Transmissoras é da ordem de R$ 3 bilhões

  • 15 Mar 2010
  • Valor Economico
  • Josette Goulart e Cristiane Perini Lucchesi Plena Transmissora administra 12 empresas, com 5.925 km de linhas, dos quais 4.976 km já em operação
  • De São Paulo


A estatal mineira Cemig está em um processo avançado de negociação para comprar cerca de 6.000 quilômetros de linhas de transmissão de energia espalhados pelo país e que pertencem a três empresas espanholas, reunidas em sociedade na Plena Transmissoras. Segundo o Valor apurou, o preço sugerido pelos vendedores seria em torno de R$ 3 bilhões e o banco que assessora a Plena na transação de venda é o Santander. A companhia mineira não quis fazer comentário sobre o assunto nem o banco. Há cerca de duas semanas, entretanto, o diretor financeiro da Cemig, Luiz Fernando Rolla, disse em reunião com investidores, promovida pelo Santander, que encontrava-se justamente em negociações para a compra de ativos de transmissão.

As declarações de Rolla estão em um relatório privado do banco feito para investidores, ao qual o Valor teve acesso. Rolla não explicou qual ativo de transmissão estaria comprando. Mas suas afirmações de compras agressivas levaram o banco a escrever que “a super Cemig está a caminho”. O presidente da companhia, Djalma Morais, disse recentemente que cerca de R$ 3 bilhões serão gastos em compra de ativos. Esse é justamente o preço estimado para a compra da Plena Transmissoras.

Se efetivar a compra, a Cemig passa a ser a maior transmissora do país depois da Eletrobrás. Ultrapassa inclusive a Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (Cteep), que tem 12.271 quilômetros em linhas. A Cemig passaria a operar 13.445 km. O salto em menos de dois anos seria gigante, já que no ano passado ela comprou a Terna Participações, que detinha quase 4 mil km de linhas.

De acordo com executivos de bancos de investimento, a Cteep também teria demonstrado interesse em comprar a Plena, desde que foi posta à venda, em outubro. Procurada, a Cteep informou por meio de sua assessoria de imprensa que no momento não negocia compra de nenhum ativo de transmissão no Brasil.

Segundo fontes próximas às negociações entre os espanhóis e a Cemig, o ativo deverá ser integrado à Taesa — empresa que nasceu da compra da Terna do grupo italiano do mesmo nome, em negócio de R$ 2,33 bilhões. Na Taesa, a Cemig tem como sócio majoritário o Fundo de Investimento em Participações Coliseu, que é administrado pelo banco Modal. Os principais cotistas são o Santander e as fundações da CEEE e de Cemig.

Ao fazer a aquisição pela Taesa, a Cemig evita comprometer os índices de liquidez de seu balanço. Recentemente, a estatal fez uma emissão de R$ 2,7 bilhões em debêntures justamente para fazer frente à compra da companhia de transmissão que pertencia aos italianos.

Com os espanhóis, as negociações têm sido um pouco mais difíceis do que foi com os italianos, segundo importante fonte a par das negociações. A discussão de preço tem sido acirrada, pois nem sempre os três sócios envolvidos, que têm fatias iguais na companhia, têm a mesma opinião. Há debates também se as espanholas continuariam ou não como sócias minoritárias no negócio, dada a perspectiva de crescimento no Brasil neste ano e em 2011. O aprofundamento da crise econômica na Espanha estaria tornando a necessidade de recursos mais premente para as sócias espanholas. Elas decidiram pôr os ativos à venda depois de verem o sucesso da operação dos donos da Terna.

Entre as sócias da Plena está a empresa Cobra, controlada na Espanha pela ACS, que também é a principal acionista do grupo Iberdrola. As outras são a Isolux e a Elecnor. Em comum, todas têm o fato de serem construtoras e estarem sendo atingidas pelo estouro da bolha imobiliária espanhola.

As três sócias da Plena chegaram ao Brasil estimuladas por incentivos fiscais do governo espanhol, principalmente na aquisição de torres de transmissão. Com preços agressivos, elas arremataram a maior parte dos quilômetros e mais quilômetros de linhas de transmissão em leilões promovidos pelo governo federal. Durante anos, foram responsáveis por grandes deságios nos leilões. O apetite só arrefeceu no período de crise e pôde ser percebido no leilão de transmissão dos linhões do Madeira, que acabaram sendo arrematados principalmente pelas estatais da Eletrobrás.

O interesse por aquisições da Cemig, controlada pelo governado de Minas Gerais, é amplamente sabido. O próprio governador, Aécio Neves (PSDB), disse que a empresa estaria fazendo uma oferta para comprar a Ampla, distribuidora que fornece energia elétrica para 50% da área total do Rio de Janeiro. É controlada pela Endesa, hoje pertencente à estatal italiana Enel. Teria interesse também pela Coelce, do Ceará. A Endesa nega intenção de venda, no entanto. Para analistas, a expansão da estatal tem relação direta com os projetos políticos com ambições nacionais do governador Aécio Neves.

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