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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Termelétricas devem continuar a ser muito utilizadas até 2013

  • 20 Oct 2010
  • Valor Economico
  • Rogério Godinho Valor
  • Para o , de São Paulo



O Brasil está sendo movido a usinas termelétricas. Ou, pelo menos, usando muito mais óleo combustível, gás natural e carvão — os resíduos fósseis que movem as usinas — do que deveria. Cerca de 16% da energia efetivamente gerada na primeira quinzena de outubro veio desses combustíveis. Embora o governo federal tenha sinalizado uma mudança de rota, as usinas termelétricas devem ser ainda mais usadas até 2013, com uso crescente do óleo combustível. O impacto será no meio ambiente e no bolso do consumidor.
O principal problema é que, originalmente, as térmicas deveriam ser utilizadas como uma reserva. Especialistas acreditam que tais fontes de energia devem naturalmente responder por até 30% da oferta. Hoje, ainda respondem por 21%. Mas este percentual trata apenas da oferta de energia; portanto, a ser usada somente em caso de falta de chuva (ainda nossa fonte de energia principal, graças às hidrelétricas). Mas, em 2010, a teoria virou prática. E cada vez mais as usinas termelétricas estão sendo usadas.
A mudança começou com o receio do governo federal em correr o risco de novos apagões. O sistema trabalhava com um risco de 5%, o que significava um problema sério a cada 20 anos. Hoje, não se aceita mais esse risco político, principalmente porque o sistema acumulava uma chance de 50% de sofrer apagões. Sem alternativas, o governo apostou nas termelétricas, guiado pelo critério de segurança e intolerância a riscos elaborado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Chegou a hora de pagar o preço.
É como se o consumidor brasileiro já tivesse comprado o combustível; ele está dentro do tanque e agora não resta alternativa a não ser usar. Mas a poluição está saindo do escapamento. O primeiro a sofrer é o meio ambiente, porque na hora em que o óleo e o gás são queimados nas usinas. O óleo combustível, o que mais cresceu, joga 0,65 tonelada de dióxido de carbono para cada Megawatt (MW) gerado.
Depois, vem o prejuízo para o bolso. De acordo com estudo da PSR Consultoria, a tarifa deve aumentar em quase 28% até 2015 e pelo menos 60% desse aumento se deve à contratação de energia nova. Em especial, as termelétricas. Até até julho, R$ 700 bilhões foram gastos com geração térmica para manter a reserva de energia brasileira no nível adequado. A situação deve permanecer até novembro, quando começa o período chuvoso. Não deveria ser assim, mas a situação tem tudo para piorar no biênio de 2012 e 2013.
A ascensão das térmicas foi reforçada nos leilões de 2007 e em 2008. E foi nesse biênio que o óleo combustível ganhou destaque. No primeiro ano, onde se leiloou a energia a ser produzida em 2010, entrou somente essa fonte de energia. No segundo ano, 17 novas usinas movidas a combustíveis fósseis foram leiloadas; esses 2.348 MW ainda não entraram em produção, mas devem alterar ainda mais a matriz energética brasileira.
O uso do óleo combustível aumentou em decorrência da dificuldade de utilizar o gás natural. Após o problema na Bolívia, a Petrobras passou a sinalizar um preço mais alto. Chegou a ser vendido a US$ 14 dólares por milhão de BTU para a indústria e o governo federal pressionou para baixar. Hoje, é vendido na faixa de US$ 4 dólares. “É provável que se estabilize entre US$ 6 e US$ 8 no futuro”, diz Jorge Trinkenreich, da PSR Consultoria. Além disso, o gás natural exige investimentos em gasodutos e precisa ser comprado mesmo que o sistema não precise, o que obriga uma geração mínima constante. Entre o final de 2009 e este ano, o governo percebeu o exagero e resolveu mudar o direcionamento.

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