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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Oferta de bioeletricidade aumenta 14%

Das 434 usinas de açúcar e álcool existentes no país, uma centena produz excedente para a rede


  • 20 Oct 2010
  • Valor Economico
  • Ellen Cordeiro de Rezende Valor
  • Para o , de São Paulo

Potencial é o que não falta para que a geração de energia elétrica em térmicas de biomassa de canade-açúcar tenha destaque entre as fontes limpas. O último Plano Decenal da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) para 2010-2019 prevê que o potencial de cogeração salte de 10,5 GW para 17,4 GW no período. No entanto, esse mercado se ressente de sinalizações dadas pelo governo por meio da regularidade nos leilões.
Só em 2010 o aumento da oferta de energia elétrica proveniente do bagaço pode chegar a 14% em relação à safra passada. Segundo o assessor de bioeletricidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Zilmar José de Souza, 100 das 434 usinas brasileiras produzem excedente de energia elétrica exportado para a rede, fornecendo 670 MW/médio em 2009, número que deve saltar para 1050 MW/médio este ano. Para ele, a cogeração representa cerca de 3% da energia gerada no país, mas há capacidade instalada para fornecer 5%.
Isso é pouco diante do potencial de geração de energia. “Temos três usinas de Belo Monte adormecidas nos canaviais”, diz Zilmar de Souza. Na sua avaliação, o recente crescimento da participação da biomassa da cana na matriz energética brasileira é resultado dos leilões realizados em 2007 e 2008, com a contratação de fornecimento com cinco anos de antecedência.
A Unica tem defendido a regularidade na contratação de energia de biomassa. Além da regularidade, a entidade propõe leilões específicos para esse tipo de energia. “É importante que haja a contratação de pelo menos 1.500 MW ao ano para manter a estrutura atual não só das usinascomo a indústria de bens de capital que fornece caldeiras e turbinas para esses empreendimentos.”
O último leilão, realizado em agosto de 2010 pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), teve pouca presença da energia de biomassa, com a contratação de apenas 12 projetos, em comparação com a eólica, que somou 70 projetos. Zilmar de Souza atribui o fraco desempenho não só ao preço pouco atrativo, como à falta de isonomia em relação a outras fontes renováveis. Segundo ele, por se concentrar no Nordeste, a energia eólica se beneficia de créditos do Fundo Constitucional do Nordeste do BNB e vantagens tributárias que não se aplicam a outras fontes.
A regularidade dos leilões e a isonomia entre as fontes foram defendidas também pelo diretor fundador do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), Adriano Pires. “O Brasil se encontra diante do desafio de aumentar a produção de energia nos próximos anos sem ir contra a tendência mundial de reduzir as emissões de CO2.” Outro ponto que precisa ser enfocado é dar igualdade de competitividade entre as usinas de açúcar e de etanol. “Há usinas de diferentes idades tecnológicas, e as mais velhas demandam mais investimentos em sua modernização.”
A participação em leilões de energia de reserva tem se mostrado um negócio interessante para as usinas mais novas. É considerada um bom negócio para a ETH Bioenergia, empresa focada na produção de etanol e na geração de energia elétrica em nove unidades de produção em São Paulo, Goiás, Mato Grosso de Sul e, a partir de novembro de 2010, Mato Grosso. “O nosso interesse é a bioenergia, que tem espaço para crescer tanto no consumo de etanol como no de energia elétrica, enquanto a demanda por açúcar tem crescimento vegetativo”, afirma o diretor-presidente da ETH Bioenergia, José Carlos Grubisich.
Para ele, a participação em leilões oficiais de energia contribui para o fluxo de caixa. O grupo já investiu R$ 3,8 bilhões e planeja aportes adicionais de R$ 3,5 bilhões para moer 40 milhões de toneladas de cana em 2012, resultando em 3 bilhões de litros de etanol e 2,7 mil GWh de energia elétrica e 600 mil toneladas de açúcar. De acordo com Grubisich, 90% da energia exportada pela companhia é negociada em leilão oficial e o restante vai para o mercado livre.
Mais do que o valor da energia negociada nos leilões oficiais — o preço de abertura do leilão de agosto ficou abaixo do certame anterior —, o problema da cogeração é a falta de regularidade nesses certames. “O planejamento de uma usina sucroalcooleira demanda mais tempo, que vai da área a ser plantada às instalações industriais”, diz Grubisich.
Pioneiro da cogeração de energia, o grupo Cerradinho, comduas usinas em São Paulo e uma em Goiás, também tem seu foco na produção de etanol e energia elétrica em sua unidade goiana de Porto das Águas. “Esse projeto foi concebido dessa forma para maximizar a geração de energia”, diz Herbert Moraes, gerente de geração. A empresa, que contava com um projeto de cogeração em 2000, beneficiou-se da preocupação com o risco de apagão no início da década. “Até então a geração de energia da biomassa da cana era vista com desconfiança”, diz.

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