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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Faltam engenheiros: déficit pode chegar até 150 mil profissionais

Por: Henrique Moraes 07/11/2010

A engenharia é uma das profissões mais procuradas na construção civil e em indústrias hoje em dia, além de ver seu piso salarial quase que triplicar nos últimos cinco anos


Quem entra para a universidade escolhendo um curso que não use cálculos para fugir da matemática deveria rever seus conceitos. É que a engenharia está se tornando uma das profissões mais procuradas na construção civil e em indústrias hoje em dia, além de ver seu piso salarial quase que triplicar nos últimos cinco anos. De R$ 2,5 mil iniciais em 2005 a R$ 7 mil atualmente. Com o mercado imobiliário aquecido, investimentos em infraestrutura e grandes eventos por vir como a Copa do Mundo, em 2014, e Jogos Olímpicos, em 2016, a demanda pelo engenheiro vem crescendo a cada ano no Brasil.
Segundo estimativas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em 2012 haverá 150 mil vagas para engenheiros (em todas as áreas) não preenchidas no Brasil. O país possui cerca de 600 mil engenheiros registrados e forma outros 30 mil ao ano. Enquanto isso, a China forma 400 mil e a Índia 300 mil. Números proporcionalmente maiores mesmo considerando a grande vantagem populacional desses países.
De acordo com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão ligado ao Ministério da Educação, o índice de evasão desses cursos nas universidades chega a 60%. Para reverter o quadro, a Capes irá lançar em 2011 o Plano-Nacional Pró Engenharia. Um programa que pretende impulsionar a formação de engenheiros no país oferecendo bolsas de permanência para os estudantes. A previsão é dobrar em cinco anos o número de formados. Outra estratégia do plano é a implantação de projetos de inovação nas escolas para que os alunos tenham contato com a prática logo no início do curso.
Membro do grupo de trabalho do Plano-Nacional Pró Engenharia da Capes, Marcos Formiga informa que o mercado necessita mais que o dobro de engenheiros que se formam no país.
“Hoje são formados entre 30 mil e 32 mil engenheiros por ano, num mercado que necessita de 70 mil. Além do número baixo de profissionais, a produção de patentes e os avanços na área de inovação tecnológica estão também abaixo do desejado para o desenvolvimento tecnológico do país. Infelizmente o interesse dos jovens por esta área vem se desenvolvendo aquém do desejado para acompanhar as rápidas mudanças mundiais. Basta comparar com a Coreia do Norte. Aqui apenas 4,8% dos universitários optam pela Engenharia contra 29% nesse país”, afirma Formiga.
“Na área de Telecomunicações estamos importando engenheiros. Hoje no Brasil há 190 mil vagas nas 51 habilitações da Engenharia. No entanto, apenas 120 mil são preenchidas. Uma defasagem de 70 mil. E este número cai ainda mais com a evasão escolar, que chega a 60%”, avalia.
Contratações começam a partir do ano que vem
Naum Roberto Ryfer, diretor da Pinto de Almeida, uma das maiores do mercado de construção civil, informa que irá contratar dez novos engenheiros civis em 2011. O que representa mais que o dobro do número atual, que é de oito profissionais. 
“O mercado está muito aquecido. Houve um volume grande de lançamentos imobiliários este ano. A Pinto de Almeida teve um aumento de faturamento na faixa de 50% em 2010. Nossa programação é gerar dez novos empregos para engenheiros em 2011”, afirma o diretor da Pinto de Almeida.

Programa aproxima estudante da realidade
A estratégia de aproximar o estudante de engenharia da sua realidade está sendo adotada pela PUC-Rio. Seguindo a indicação do Plano-Nacional Pró Engenharia, a universidade fechou parceria com a Bentley – multinacional norte-americana, líder mundial em fornecimento de software para construção civil, áreas de petróleo e energia.
“Vários softwares têm sido usados na indústria e na construção civil. Com o uso do programa, os estudantes de engenharia passam a ter uma qualificação mais integrada e próxima da realidade do mercado de trabalho”, informa o coordenador do curso de Engenharia da PUC-Rio, Luiz Fernando Martha.
A Bentley, atuante em 45 países ao redor do mundo, já tem implantado seu sistema em 13 universidades no Brasil. No Rio, além da PUC-Rio as públicas: Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) estão em negociação com a empresa.
“Os softwares desenvolvidos pela Bentley são fundamentais no desenvolvimento de grandes projetos, como pontes, vias expressas, edifícios, etc. A tecnologia desenvolvida pela empresa garante aos profissionais segurança e eficácia na conclusão do trabalho iniciado nas pranchetas, por meio de simulações em 3D. Nas escolas a implantação do sistema é customizado de acordo com as necessidades de cada universidade”, explica Sálvio Lerner, gerente técnico da Bentley no Brasil.
No ramo desde os 21 anos
O engenheiro civil Diogo Rodrigues Mota, apesar de ter apenas 31 anos, já tem 10 de profissão. Hoje ele é responsável por três empreendimentos da Pinto de Almeida.
“Devo estar à frente de uma quarta obra no próximo mês. Hoje realmente o mercado está muito melhor para nós engenheiros. Situação bem diferente de quando entrei para a faculdade. Meu pai, que também é engenheiro, me aconselhava a não seguir a profissão por conta da desvalorização e falta de oportunidade na época”, comenta Mota, que é responsável pela construção de um edifício comercial em São Francisco e dois residenciais em Pendotiba. 

Opção – O engenheiro químico Carlos Tadeu Padilha Teixeira, de 23, é um outro exemplo de jovem promissor na profissão. Há um ano e três meses trabalhando para a DNV, multinacional norueguesa, que atua principalmente na área naval e de petróleo e gás, Teixeira se diz satisfeito com a engenharia química.

“É uma área muito abrangente. Posso trabalhar na área petroquímica, alimentícia, farmacêutica, de siderúrgica e de produtos químicos industriais. Como na escola sempre gostei de química e na época do vestibular estava começando o boom da área de petróleo e da indústria naval, optei na engenharia química e hoje sei que fiz a escolha certa. Antes mesmo de me formar já estagiava na empresa que hoje estou empregado”, relata o jovem engenheiro químico.
Novas estratégias
Marcos Formiga diz, ainda, que muitos estudantes entram nas escolas de Engenharia quase que analfabetos em matemática.
“Por isso que os estudos do Capes têm mostrado que o Ministério da Educação precisa cobrar um ensino básico com uma solidez maior na matemática. Outra estratégia do plano é a implantação de projetos de inovação nas universidades para que os alunos tenham contato com a prática da profissão no início do curso”.
Como também é professor-pesquisador do Laboratório de Estudos do Futuro da Universidade de Brasília (UnB), Formiga diz que durante décadas muitos jovens deixaram de escolher cursos de ciências exatas para fugiu dos cálculos dando preferência às ciências sociais e humanas.
“Aliado ainda aos baixos salários em função do mercado de trabalho retraído pelo baixo desenvolvimento, a profissão de engenheiro ficou por décadas desvalorizada. De cinco anos para cá este quadro mudou com o desenvolvimento do país. Hoje, um engenheiro civil ou de produção, por exemplo, antes mesmo de deixar a universidade já está empregado”.
O diretor do Departamento de Engenharia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Hermano José de Oliveira, informa que o número de vagas aumentou 50% nas nove disciplinas de Engenharia na universidade. Ele afirma que pulou de 4 mil até a década de 1990 para 6 mil atualmente.
“Chegaremos a 8 mil até 2014. Até o número de alunos dobrou nas salas de aula. Acredito que os investimentos em infraestrutura fez este quadro mudar. Hoje estamos antecipando a colação de grau dos formandos que já estão sendo contratados antes mesmo de terminar o curso. Isso vale para as nove habilitações da Engenharia da UFF”, explica Oliveira, se referindo aos cursos de Engenharia Civil, Mecânica, Produção, Petróleo e Gás, Telecomunicações, Elétrica, Agrícola, Recursos Hídricos e Meio Ambiente.

O FLUMINENSE



5 comentários:

  1. Sempre Dizem que falta engenheiros aqui e ali, mas a verdade é que as empresas não dam oportunidades recém - formados, exigem um montão de cursos e o "INGLÊS FLUENTE", pois esquecem que estam contratando pessoas no Brasil! Além do mais, nem todos engnheiros recém formados obtiveram a oportunidade de estudarem inglês desde de criança.Eu recém - formado em Engenharia Elétrica pela PUC Rio ainda não encontrei uma oportunidade de trabalho boa no mercado de Energia Elétrica ou Petróleo e Gás. Nem mesmo em grandes indústrias!!

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  2. Essa discussão é interessante. Eu também passei por isso. A entrada no mercado de trabalho é sempre a parte mais difícil, pois é uma fase de transição entre academia e empresa. Já vi engenheiros formados desistir da profissão por encontrar dificuldade nesse momento. Na minha opinião, deve-se continuar buscando a oportunidade. Uma idéia que eu tinha quando me formei era que viriam uma batelada de empresas batendo na minha porta querendo me contratar. Havia feito um bom curso, numa boa faculdade, assim como você. Besteira! Nenhuma veio. Onde estão as empresas?! Sempre bate a preocupação. Mas depois de um tempo, percebi que a responsabilidade de buscar a vaga é nossa. Nós é que temos que decidir sobre o que queremos fazer, assim como decidimos que variáveis devemos considerar em nossos modelos nos estudos de engenharia. Outra fato é que as demandas no mercado de trabalho são sempre "pra ontem" e são supridas tão logo se encontre alguém que se julgue ter habilidades para fazer o trabalho. Nem sempre essa pessoa foi a que teve melhor desempenho acadêmico. Estar atento implica em ler jornal, pesquisas na internet, entre outras mídias e enviar currículo, Principalmente enviar currículo. Até hoje ainda não se criou um banco de dados de currículos de engenheiros no Brasil - uma falha, dentre muitas, das "área de recursos humanos". Por tudo isso, devemos manter a cabeça sempre olhando pra frente e nunca desistir, pois a oportunidade vai aparecer.

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  4. Na minha opnião, há um discrepância entre o que corre na realidade e o informado pela mídia. Como o amigo Fábio mesmo informou, as empresas querem os profissionais "para ontem", dão preferencia àqueles que possuem algum tipo de experiência, caso contrário, no caso das grandes, importam a mão de obra. Na grande maioria dos meus amigos, todos estão em boas empresas e ganhando muito bem, visto que eles já possuiam técnico e já trabalhavam na área desde o término do ensino médio, e estavam na graduação apenas pelo diploma e a promoção, praticamente, automática. Tão logo, deveria ser melhor esclarecido essa questão da "falta de engenheiros" no mercado, pois caso contrário, muitos entrarão com a ilusão da terra prometida.

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  5. Muito bem colocado Luiz. A imprensa faz uma reportagem com um olhar genérico e suas publicações tem que ser lidas com um olhar crítico. Quando se lê essas reportagens sobre falta de engenheiros, logo se pensa: "To bem na foto!" Mas logo que se forma, encontra-se uma dificuldade inicial, que é normal de toda profissão.

    Na minha opinião há diversas vagas para engenharia em áreas específicas. Cabe a nós, engenheiros, buscar conhecimento e se adequar as demandas do mercado. Claro que conciliando como das nossas expectativas sobre as atividades que gostamos de desempenhar na engenharia.

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