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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

“Trabalhamos com confiabilidade de 99%”, diz Zimmermann

  • 0 Nov 2010
  • Valor Economico
  • Márcio Zimmermann


O embate entre a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e o Ministério de Minas e Energia começou com as discussões em torno da CPI das tarifas, mas foi potencializado com o blecaute do ano passado. Nesta entrevista, o ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, deixa claro que não concorda com o relatório de fiscalização da Aneel contra Furnas.
Valor: O que o ministério verificou que precisa ser feito e o que de fato foi feito para se evitar um novo blecaute?
: Primeiro, tínhamos medidas emergenciais a serem tomadas. A primeira coisa a observar é que a rede de 750 kV, que liga Itaipu a São Paulo, é a única do país que opera nessa tensão e se acontece algo lá, traz alguma apreensão. Por causa disso foi criado um grupo para fazer a avaliação de um evento único como esse. Quando se criou o grupo, ele não era do ministério, era do CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor elétrico). Era composto por quem hoje é membro do comitê e que quis participar, como a Aneel. Também convidamos a empresa envolvida diretamente no blecaute e trouxemos o Cepel.
Valor: Por que convidar a empresa envolvida a participar do grupo?
: A única empresa que opera com essa rede é Furnas. E há 30 anos. Quando ocorreu o evento, o ONS reuniu 60 técnicos de empresas, que fizeram a primeira análise. O ministro Lobão, como coordenador do CMSE, determinou a criação de um grupo para fazer a análise mais completa.
Valor: Uma das medidas adotadas em Itaberá foi a adoção do “chapéu chinês”. Essa não é uma tecnologia nova. Por que ela nunca foi necessária?
: Nunca tivemos problemas desse tipo. Chuva concentrada naquele local ocorreu poucas vezes. Na verdade, lá fora, esse chapéu é usado para outros fatores climáticos, como neve. Depois do blecaute, outra providência foi verificar se Furnas estava operando dentro das condições do projeto em que foi construída e o Cepel verificou que a empresa operava normalmente. Os equipamentos estavam com a manutenção em dia e dentro de um índice de manutenção altíssimo. Eles mostraram relatório com nível de 97% de manutenção realizado.
Valor: O grupo acreditou mais em um relatório feito por Furnas do que na fiscalização da Aneel?
: Não acreditei em empresa nenhuma. As pessoas que podem falar no Brasil sobre esse assunto foram reunidas. Todos que tínhamos que consultar, nós consultamos. O relatório que o grupo do CMSE fez não tem viés, tem é que levantar fatos e tratar o assunto seriamente. Quando se tem um tronco importante como esse, você tem que achar a solução técnica sem jogo de esconde-esconde.
Valor: Mas foram técnicos que fizeram a análise na Aneel...
: Uma coisa é um técnico que conhece a instalação, que tem doutorado na área. Outra é um engenheiro, que talvez nunca tenha entrado numa instalação dessa. Isso é que é complexo. Não é porque tem nome técnico e diploma de engenheiro eletricista que pode falar. Para uma avaliação técnica, você precisa de especialistas.
Valor: Mas dessa forma a fiscalização da Aneel é dispensável.
: Não adianta querer explorar esse viés. OCMSE éum órgão criado por lei e que tem justamente o papel de equilibrar o sistema. A Aneel faz o papel dela e eu tenho que cumprir aquilo que é determinado pela lei. E eu fiz isso.
Valor: O sr. acredita que o grupo era isento, apesar de ser formado por pessoas da Eletrobras Furnas e do Cepel, que é patrocinado pela Eletrobras. Na sua opinião foi um trabalho isento?
: Você imagina 60 técnicos de empresas diferentes. Valor: Ao que o sr. se refere? Zimmermann : Ao primeiro relatório do ONS, que reúne 60 empresas privadas. Eles chegaram a uma conclusão. A partir disso, reuniu-se no ministério um grupo de quem mais sabe do assunto no Brasil e o grupo chegou a uma conclusão.
Valor: Antes mesmo do blecaute, o problema de excesso de chuva já tinha sido verificado. Isso por si só não chamou a atenção da empresa e do ONS antes do blecaute?
: Sim. A prova é que já estava sendo estudado antes do blecaute. O Cepel estava trabalhando com isso. Mas era uma situação nova. Às vezes você tem que trabalhar com isso. Não existe sistema no mundo imune ao blecaute. O que se faz é minimizar, aproveitando experiências anteriores. Valor: O país está protegido? Zimmermann : O sistema brasileiro trabalha com confiabilidade de 99%. Agora, para tornar o blecaute impossível, precisaria investir em um sistema pelo menos três vezes mais caro.
Valor: É comum que se diga que não existe uma causa, mas uma série delas. Itaberá foi exceção?


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